[Fev de 2021] Numa consulta de rotina, às 9 semanas, em que o namorado estava no carro (não podia entrar por causa da pandemia), a médica, ao fazer a ecografia, disse "Não temos sinais de batimento cardíaco". E FOI A FRASE MAIS DOLOROSA QUE OUVI NA VIDA.

Perguntei, nervosíssima, o que é que isso queria dizer, sabendo perfeitamente o que era. Na verdade não queria acreditar no que estava a ouvir, nem achava que poderia ser tão fácil assim perder um filho. Tão simples. Tão natural. Sem dor. Sem sentir o que quer que fosse. Achei sempre que ia correr tudo bem. Que em Setembro de 2021 ia conhecer o meu bebé. Mas isso não aconteceu.

Hoje, quase 2 anos depois, ao lembrar-me do que passei ainda dói e custa falar no assunto. Tanto que nunca partilhei isto com ninguém além dos meus pais, irmã, sogros e cunhada.

À família e amigos que estão a saber isto agora, não tinha como partilhar na altura, nem em qualquer outra, porque não conseguia falar disto nem sabia como abordar o assunto. Ninguém sabia que estava grávida como é que ia dizer que tinha perdido um bebé?

Chorei muito sozinha, sofri muito, e durante vários meses, sem nunca ninguém perceber. O tempo acabou por atenuar um bocadinho a dor. Não cura. Não acaba com ela, mas, no meu caso, tornou-a menos custosa. Se não tivesse a Benedita sei que este vazio seria maior, mas assim as coisas ficam um pouco diferentes.

E porque é que estou a partilhar isto agora? Sobretudo para que o tema "perda gestacional" seja mais abordado. Já se fala nisto, mas pouco. Tão pouco que não sabia até aquele dia que 7 em cada 10 mulheres perdem o bebé.
E também para que se perceba que, infelizmente, é mais normal do que pensamos, e que pode e acontece com qualquer mulher. Tenho a certeza que já aconteceu com alguém da tua família ou das tuas amigas, mas se calhar nem sabes, ou até contigo.

Por isso nunca perguntes quando é que um casal está a pensar ter filhos porque podem ter acabado de perder um.

[Tirei estas fotografias para nunca me esquecer de um dos piores dias da minha vida (até porque seria impossível), mas essencialmente para o meu eu do futuro (o de hoje por exemplo) olhar para elas e ver que já estou melhor]

(Continua)