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GO CAROL

BEM-ESTAR, FITNESS, COZINHA OVOLACTOVEGETARIANA, BEBÉS E A MINHA VIDA NO GERAL (E ÀS VEZES NO PARTICULAR)

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Qua | 01.04.20

Coronavírus: Entrevistas a Profissionais de Saúde - Enfermeira de Vila Nova de Gaia

Entrevistei alguns profissionais de saúde e irei partilhar as respostas aqui. Não os quis maçar demasiado por isso tentei ser curta e sucinta. Se entretanto tiveres alguma questão podes deixa-la abaixo. E caso sejas um profissional de saúde a trabalhar neste momento e quiseres partilhar alguma história ou responder às questões que vou deixar abaixo poderás enviar-me para o Instagram ou por e-mail. O primeiro profissional que se disponibilizou a responder às minhas questões foi a Enfermeira Ilda Pinheiro.

 

1-Qual a tua área e em que distrito do país trabalhas?

Sou enfermeira em Vila Nova de Gaia.

2-O que é que mais custa nestes dias em que mais de metade do país está de quarentena e tu estás a trabalhar? E o que é mais positivo?

O que mais custa é, definitivamente, estar longe de tudo e todos. É não podermos abraçar e beijar os nossos sabendo que podemos ou não já estar infectados e para os proteger, minimizar os contactos ao máximo. A parte positiva, mais tempo em casa entre turnos e mais tempo para atualizar séries, descansar e carregar baterias para os próximos dias.

 

3-Como é lidar com as pessoas que chegam ao teu local de trabalho? Elas costumam estar calmas? Agitadas? 

Na sua maioria, as pessoas sabem o que se passa, até sabem os cuidados que devem de ter, mas não têm consciência de as fazer. Por exemplo, etiqueta respiratória, muitas não cumprem, muitas continuam a espirrar e a tossir para todos os lados, ou então tossem para as mãos com luvas, que usam porque pensam que estão protegidas, mas pelo contrato, é uma falsa proteção, porque as pessoas assumem que usando-as não necessitam de lavar as mãos ou desinfectar com álcool gel, o que é absolutamente errado, e acaba por ser um meio de propagação maior, não são para elas próprias, porque continuam a colocar as mãos em todos os lados, incluído a sua própria boa e nariz, como para os outros que irão contactar.

 

4-Achas que os utentes estão a atuar bem quando se dirigem ao teu local de trabalho? Cumprem as regras? São pacientes?

Não 😂 Eu trabalho nos 2 setores (público e privado) e a visão geral que te posso dar é: "Vou fugir do público porque lá estão todos infectados, ou tentar ir ao privado e infectar os que lá estão, porque efetivamente eu não sei se estou infectado, mas quero ir lá fazer o teste". Coisas deste género. Coisas como querer continuar a marcar consultas e fazer outras coisas que podem ser adiadas. Desvalorizarem a questão da tosse e distanciamento social. Na cabeça delas, como elas estão aparentemente bem, e até estão a usar luvas, é o supra-sumo e não lhes vai acontecer nada. Acho que o grande problema não é de facto as pessoas saberem que podem infectar-se mas sim, tomarem consciência de que podem ser elas o veículo portador e serem elas a infetarem os outros, por mau uso dos equipamentos que têm disponíveis

 

5-Tens algum momento que gostasses de partilhar que te tenha feito ganhar o dia? Algo de positivo que tenha acontecido durante o teu trabalho.

A união e a força que estamos a desenvolver entre profissionais. Tenho colegas que estão numa realidade muito mas mesmo muito diferente, e a entreajuda tem sido incrível. Ao contrário do que poderão achar, não é o bater palmas a janela que nos vai dar ânimo na luta, é realmente eu passar na rua e não ver velhinhos a passear, crianças a brincar, e a arranjarem qualquer desculpa para sair de casa. Se eu pudesse saber que todos iam ficar em casa e não iam sair, acho que aí eu ganhava o dia e a luta contra o Corona 💪.

 

6-E sem entrar em muitos detalhes, assististe a alguma situação menos feliz?

Sim, e assisto todos os dias. A falta de material de proteção para pudermos trabalhar! Batas, proteções oculares, proteções do calçado, até luvas, que para nós são indispensáveis e que escasseiam para prestarmos os cuidados aos doentes. Para além de que no início desta pandemia e da sua chegada a Portugal, saber que os stocks de desinfectante e máscaras começaram a desaparecer nos hospitais

 

7-Relativamente ao teu dia, podes resumir-mo? 

Acordo, vesto uma roupa prática, vou trabalhar, visto a farda que trocamos todos os turnos, lavo mais de 20 vezes as mãos no turno, saio do trabalho, visto a minha roupa, chego a minha casa e logo a entrada estou a despir-me e a meter-me no banho antes de contactar com o meu marido, e a roupa vai para lavar, todos os dias!!! O outfit não muda entre pijama em casa, fato de treino nas viagens e farda no trabalho. Para não falar que entro e saio sempre de garagens para contactar o menos possível com os vizinhos. As compras ficaram condicionadas para apenas 1 dia por semana, tentando sempre ir numa hora de pouca afluência. A roupa começa a amontoar-se porque todos os dias a máquina trabalha, e não tenho tempo para a arrumar depois de secar. As idas ao café e comer fora acabaram, agora é tudo feito em casa.

 

8-E no que respeita a luvas, máscaras e outro equipamento de proteção? Tem sido fácil usar? No teu local de trabalho toda a gente anda devidamente protegida?

Não! Para já, as máscaras têm estado sempre asseguradas. As luvas nem por isso, e então as batas e as proteções de calçado muito menos! Todos os dias são uma luta constante, todos os dias esperamos mais uma pequena vitória. Eu já tenho marcas no nariz e nas orelhas das máscaras que tenho que usar todos os dias, 8 a 12h sempre seguidas.

 

9-Para terminar, gostarias de deixar algum conselho a quem está em casa e se sente bem? E a quem tem algum sintoma?

Acho que só o ficar em casa é o melhor que têm a fazer. Não arranjem desculpas para sair, só porque não têm mais que fazer em casa. Aproveitem para fazer limpezas, organizar aqueles armários confusos, fazer um puzzle (como eu estou a fazer por exemplo 😂), atualizar séries e filmes, meditar e desligarem-se das notícias. Estar informado é bom, mas se a informação for demasiada vai acabar por ser confusa, e não vai ser usada da melhor forma. Lembrar que apesar de não terem sintomas, podem já estar infectados e podem infectar os outros. Infelizmente não nos liga uma luz na testa quando entramos em contacto ou estamos infectados. Por isso, Cuidem-se e assim estarão a cuidados dos outros!

 

A Ilda pediu ainda para salientar que faltam mesmo muitos materiais, nomeadamente batas e proteções oculares, assim como máscaras e luvas, em TODOS os hospitais! Temos que racionalizar o que temos para dar o mínimo para todos. Se conheceres alguém que tenha empresas que possam facilitar na elaboração de viseiras, fardas TNT, batas impermeáveis, impressoras 3d para a elaboração de peças dos equipamentos de proteção, que entrem em contacto com os hospitais da área. Estamos todos a preparar-nos para o pior que ainda está para vir.