O Meu Parto - Parte II
(Continuação)
Lembro-me que eram 22:30 e não tinha posição. Passei imenso tempo sentada na sanita a fazer nada porque quando as contrações vinham era onde me sentia mais confortável. Não conseguia estar deitada na cama, não conseguia estar sentada no sofá, ia para a bola de pilates tentar acalmar as dores mas também não estava bem lá,... enfim. Já não sabia o que fazer. Entretanto o homem foi dormir e eu ali de um lado para o outro sem saber o que fazer nem como ia conseguir dormir aquela noite. De vez em quando acordava e perguntava se estava melhor e se queria ir ao hospital. As respostas eram sempre as mesmas: "Acho que não é preciso, isto já passa" e "Foi do toque da médica, é normal ter estas dores, já da última vez tive mas menos intensas, deve ser por estar mais perto dela nascer". E assim passei mais uma hora, que pareceram seis, até que resolvi ligar à minha médica. Já estava a sofrer de forma muito intensa desde as 21h, e com menos intensidade desde que havia saído da consulta, e nesse momento já tinha dúvidas se afinal sempre tinha sido do toque ou se a bebé a nascer no dia seguinte (digo dia seguinte porque era quase meia noite). Às 23:30 ligo então à médica a desfazer-me em desculpas, mas que já não aguentava mais as dores e já não sabia se havia de ir ao hospital ou não. Não sabia se a bebé ia nascer ou se eram só dores por causa do toque. O que me disse foi para esperar até à meia-noite. Se as dores e as contrações não acalmassem para ir para o hospital e levar as malas porque podia mesmo nascer.
Até me esqueci de referir acima o mais importante, mas as contrações depois das 22h já eram de meia em meia hora, vinte em vinte minutos, e foram sempre diminuindo até ao momento em que saí de casa às 00:20h com contrações de 1:30 em 1:30 minuto. Isto é mesmo arriscar o nascimento no carro ou em casa, não o façam por favor!
À meia noite, tal como a médica havia dito disse ao meu namorado que calhar era melhor irmos ao hospital porque se calhaaaar a bebé ia nascer. Pedi-lhe para pegar nas malas, pôr o carregador do telemóvel na mesma, vesti-me com dificuldade e sempre a ter de parar porque as contrações não davam tréguas, e a correr para a sanita para me sentar ali um bocado até ela passar e eu conseguir fazer alguma coisa outra vez. Se às 21h ainda havia xixi a sair, à meia noite já nada saia. Estava só ali sentada a sentir as dores. Pedi-lhe para ir dizer aos meus pais que íamos sair e para lhes explicar o que se passava porque eu já sabia que iam fazer muitas perguntas e eu não estava em condições de dizer nada. Num ápice apareceram os dois na casa de banho. O meu pai com cara de pânico e a minha mãe a dizer que a devia ter chamado se estava mal, que eles nem faziam ideia do que se estava a passar. Típico meu. Sempre que posso não chatear alguém não chateio, mesmo que esteja quase a ter um bebé. 😅😂
A minha mãe ainda me ajudou a andar e quando já estávamos quase a sair de casa ainda se lembrou de dar umas bananas ao meu namorado. Queria fazer umas sandes para levarmos e eu ainda disse "oh mãe não dá tempo!!!". Sempre que falamos nisto desatamos a rir. Eu a ter o bebé e a minha mãe a dizer que ia fazer sandes para levarmos porque não sabíamos a que horas íamos voltar 😂.
Deu duas garrafas de água ao João e seguimos, eu com dificuldade em descer escadas, entrar no carro e etc, a minha mãe toda atrapalhada a dar-me toalhas caso rebentassem as águas no carro e eu a dizer "já vimos" 😂😂. Tem muita graça agora mas no momento não teve piada nenhuma e eu só queria que aquelas dores passassem.
Durante a viagem o namorado ia falando e fazendo perguntas e eu só respondia depois da contração passar. Parecia que não dava para fazer as duas coisas, tal era a dor que impossibilitava de pensar fosse no que fosse. Sempre que uma contração vinha esticava as pernas e o pescoço, ficava quase deitada no assento da frente do carro. Era uma coisa estranha, mas não tinha muito espaço nem aquela posição era confortável.
Chegámos ao hospital em 15 minutos (isto não era para dizer pois não??), o homem estacionou fora e eu só pensava "como é que eu vou fazer estes 200 ou 300 metros a pé?? Está maluco só pode!!!" Lá fui eu de quispo, e botas, com uns 5/7 graus, mas sem grande frio, agarrada à barriga e ao braço dele até às urgências.
Chegámos e não havia ninguém felizmente. Só uma rececionista que estava ao telefone, um bombeiro e outro senhor que costumava lá estar a abrir as portas para a triagem. Depois de 3 ou 4 contrações à frente da tal reccionista lá nos prestou atenção. O meu namorado falou por mim enquanto me agarrava ao balcão cheia de dores, e em poucos minutos fui chamada. Mas antes disso o senhor da entrada perguntou-me se queria uma cadeira de rodas e aceitei de bom grado. As malas e o baby coque tinham ficado no carro porque AINDA ACHEI que não ia ser necessário, mas estava a ver a coisa cada vez mais negra.
O meu namorado empurrou-me até a triagem onde disse que estava com contrações praticamente a cada minuto e me perguntaram porque é que não tinha ido para hospital antes... pois, também não sei, mas sou teimosa, e na verdade queria que a bebé nasceu 26 de Janeiro... Manias.
Ainda não tinha referido mas a lua tinha mudado no dia 17 de Janeiro... Quem quiser acreditar acredita... E desde Dezembro que sabíamos de cor os dias em que a lua mudava, e meio que "festejávamos" (eu pelo menos) a cada passagem dela com a bebé dentro na barriga.
Ora depois da triagem encaminhamo-nos para o segundo andar, que já conhecia como a palma da minha mão, tantas haviam sido as vezes que lá tinha estado. Tocámos à campainha para nos chamarem, neste caso apenas a mim, já que o covid ainda estava num nível chatinho e só era possível ter acompanhante na sala de partos.
O homem ficou então sentado na sala de espera enquanto eu me dirigia para sala do CTG. Foi empurrada por uma enfermeira até lá e deitei-me na maca. Pôs-me as fitas para medir o batimento da bebé mas eu estava com tantas dores e contrações que cada vez que uma delas aparecia eu só gemia e contorcia-me. Logo numa dessas primeiras a enfermeira sai-se com o seguinte "não esteja a gemer tanto que isto não é nenhum filme". Respondi-lhe algo como "não estou a gemer tanto, estou cheia de dores", mas possivelmente, se estivesse no meu estado normal, pedia o livro de reclamações e fazer queixa dela. Isto é o que deve ser feito quando nós somos tratadas como deve ser. Isto é violência obstétrica, caso não saibas e te aconteça algo semelhante. Depois de cerca de 10 minutos perguntei se ainda tinha que ficar ali muito tempo visto que estava cheia de dores. Disse-me que não e encaminhou-me, a pé, para a sala ao lado onde estava a minha médica.
A doutora viu-me, disse-me para sentar na cadeira para fazer toque vaginal, e disse que estava com 10 cm de dilatação, e que portanto, a bebé e a nascer naquele momento. Só aí me começou a cair a ficha, mas só depois, já na sala/bloco de partos, percebi o que se estava a passar e que, se tudo corresse bem, naquele dia, dia 18 de Janeiro, a minha filha iria nascer.
Era perto da 1:20h da manhã quando disse aos meus pais que a bebé ia nascer naquele dia e que já não voltávamos para casa. A médica ou enfermeira, sinceramente nem sei, foi à entrada e disse ao meu namorado para ir buscar as malas e para fazer um teste covid rapidamente porque a bebé a nascer naquele momento, e para ser muito rápido caso quisesse assistir ao parto. Disse-me ele depois que andou a correr a tentar sair do hospital, que estava em obras, e que à noite tem muitas zonas fechadas, foi até o carro, agarrou nas malas, e de quispo e tralhas às costas, voltou a correr pelas urgências, onde tinha de entrar, e dirigiu-se novamente ao segundo andar, entrou rapidamente no bloco, onde eu já estava, mas teve de sair novamente para fazer teste de covid.
Enquanto ele ia e não ia buscar as malas, fui dirigida para a sala de partos, e foi-me dito para me despir totalmente e vestir uma bata. Estava de vestido e meias de compressão que iam até ao final da coxa, por causa dos derrames que a gravidez me causou, e que me faziam imensas dores na perna direita. Perguntei se podia fazer o parto com as meias e disseram que não havia problema. Devo ter sido a primeira mulher a fazer um parto com meias, mas faziam-me mesmooo falta.
Enquanto estava a despir-me uma enfermeira parteira ia tratando de todo o material muito rapidamente. Compressas, luzes, soro, zona para a bebé ser pesado, limpo e vestido quando nascesse, o medicamento que tinha que me administrar visto que eu tinha o teste do cotonete positivo (não o do covid, mas o do cotonete, que se faz no último mês de gravidez e que caso dê positivo a grávida tem de tomar um antibiótico de duas em duas horas até o bebé nascer). Sinceramente não sei mais o que é que a enfermeira parteira estava a fazer, porque eu estava com contrações muito frequentes e nem conseguia prestar atenção. Antes disso pedi a enfermeira que me tinha dito para "não gemer tanto" para me ajudar a tirar as botas e a resposta foi que "só me fazia bem fazer exercício e mexer." Só pensei cá para mim: "se te estou a pedir é porque não consigo mesmo, caso contrário não podia de forma alguma". Enfim. Até estava com medo que essa enfermeira ficasse na sala de parto. Não queria nada lidar mais com ela. Infelizmente não tenho a certeza do nome dela, mas caso queira investigar é só saber quem era a enfermeira de serviço na obstetrícia na madrugada do dia 18 de Janeiro de 2022.
Felizmente não ficou na sala e eu fiquei só com essa enfermeira parteira e a minha médica que entretanto apareceu. "Por acaso" estava de serviço 24 horas, e, felizmente, esteve comigo até a Benedita nascer.
Depois de me despir deitei-me na maca e administraram-me soro e o antibiótico que devia ser duas horas antes do bebé nascer, mas que já não dava tempo. Era 01:30h e o meu namorado ainda não estava comigo. Eu só perguntava à médica e a enfermeira onde é que ele estava e que tinha que o chamar porque eu sabia que a bebé estava a nascer. Ele chegou poucos minutos depois e foi novamente para trás uma vez que ainda não tinha feito teste covid. Eu também fiz o teste antes entre contrações.
Estávamos finalmente os quatro na sala, todos de máscara, e eu já estava a fazer força para a bebé nascer praí há 10 minutos. A minha médica estava de um lado a segurar-me a mão enquanto fazia força, tinha o meu namorado do outro lado, e à minha frente a enfermeira parteira.
Sempre que vinha uma contração tinha de fazer força de expulsão, semelhante à força de fazermos xixi. Não a de fazermos cocó, que é totalmente diferente (e é importante dizermos isto e falarmos acerca disto para que não se façam confusões e se perceba exatamente o que é a força de expulsão num parto), mas que na maioria dos casos acabamos por fazer também.
Fui fazendo força à medida que as contrações vinham e a enfermeira parteira ia dando indicações de como estava a bebé, onde se encontrava. A certa altura vejo-a de tesoura em punho e pergunto o que é que ia fazer. Ela disse que "ia dar um cortezinho para ajudar a que a bebé nascesse". Pus as mãos à frente e disse "não quero ser cortada, não quero ser cortada!!". Disse-me então para fazer força no sítio certo e não só na garganta. Depois disso a minha médica ainda tentou realizar a manobra de Kristeller, uma técnica obstétrica obsoleta executada durante o parto que que baseia na aplicação de pressão na parte superior do útero com o braço com o objetivo de facilitar a saída do bebé. Rapidamente lhe tirei a mão. Não queria que fizessem nada daquilo!
Continuei-me a esforçar até que vejo a cabeça da bebé. E nesse momento sim percebi que em poucos segundos ela iria sair. E foi exatamente o que aconteceu. Posso dizer que ver o cabelo dela, ou a cabeça vá, foi o que me deu mais força.
Às 02:12h de 18 de Janeiro nasceu a Benedita, de parto normal e sem epidural (porque mesmo que eu quisesse quando cheguei ao hospital já não dava tempo de tomar, uma vez que estava com a dilatação completa), e esse foi o dia mais feliz da minha vida.
Depois disso muitas coisas aconteceram ainda na sala de partos. Poderei contar tudo noutro artigo...